Universidade Federal de São Paulo

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Conheça os bastidores de um dos primeiros projetos de extensão criados na universidade

Escrito por Paula Garcia

1 Lenine
Ensaio do espetáculo Cinco Olhares Sobre Lenine. Foto: Arquivo Coral Unifesp

O Coral Unifesp é um programa extensionista, vinculado desde 1997 à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec/Unifesp), em que os públicos interno e externo se envolvem no desenvolvimento de um produto artístico que dialoga diretamente com a sociedade, por meio dos seus concertos, além de favorecer uma participação plural com um elenco intergeracional e socialmente híbrido.

“De uma forma geral, o Coral Unifesp realiza a extensão em todas as vias. Por um lado, devolve para a sociedade um produto artístico de qualidade desenvolvido na universidade e também permite que pessoas da sociedade, que não têm nenhum vínculo com a universidade, façam parte disso. É uma participação absolutamente democrática; a pessoa que quiser participar, é só ir lá; não importa quem ela é”, explica o maestro regente, Eduardo Fernandes.

2 Cantos de SP
Espetáculo Cantos de São Paulo. Foto: Arquivo Coral Unifesp

Os espetáculos mesclam canto coral e representação cênica, e o repertório abrange, sobretudo, música popular brasileira. O tema, compositor(a) ou disco que será trabalhado é escolhido de maneira conjunta no final do ano anterior ao da montagem. “A partir desse momento, a gente vai atrás dos arranjos. Se você pega uma música, alguém tem que fazer um arranjo, ou seja, uma versão para coral. A partir do momento em que se tem todo o material musical e o coral já ensaiou grande parte, a gente chama um(a) diretor(a) de teatro para trabalhar conosco. Esse(a) diretor(a) é quem começa a trabalhar em cima das músicas e do roteiro que foram definidos”, explica Fernandes, já antecipando que o repertório de 2024 será baseado em personagens das canções de Chico Buarque, que não fazem parte dos seus musicais.

3 Afro Sambas
Espetáculo Os Afro-Sambas. Foto: Arquivo Coral Unifesp

As apresentações são alternadas anualmente entre uma estreia de espetáculo inédito e uma reapresentação de alguma peça do repertório do coral. Ao final da temporada, o grupo realiza um balanço dos aprendizados e desafios de cada projeto. Quem participa define o coro como um local de encontro, socialização e transformação de vidas, onde a paixão pela música acaba influenciando pessoal e profissionalmente os(as) integrantes. “Principalmente pelo fato da gente trabalhar com a questão cênica, onde as pessoas têm uma maior proximidade. Acaba sendo muitas vezes um divisor de águas na vida delas, e isso é muito legal”, define o maestro.

Breve história

4 Coral Unifesp
Foto: Arquivo Coral Unifesp

Fundado em 1967, pelo médico David Reis, após a passagem de alguns regentes e uma breve pausa no ano de 1990, o Coral Unifesp ganha nova roupagem em 1991 com a direção musical e regência do maestro Eduardo Fernandes, que trouxe a combinação da atuação cênica e a música propriamente dita para as apresentações. Esse se tornou um dos principais diferenciais do coro, que também se distingue do estilo teatral “musical” pela coletividade do coro cênico, sem histórias individuais.

Nos primeiros anos, era chamado de Coral da Escola Paulista de Medicina, formado apenas por estudantes da EPM/Unifesp, e o repertório variava anualmente entre música popular e música erudita/sacra, assim os(as) participantes teriam as duas vivencias artísticas.

A primeira apresentação com atuação cênica foi no ano de 1993, quando o coral e o grupo de Theatro do Hippocampus (EPM/Unifesp) se juntam para montar a Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Enquanto o grupo encenava a peça, o coral cantava as canções. A partir daí o coro percebeu que também deveria assumir a encenação, e desde 2008 o Coral da Unifesp não produz mais espetáculos eruditos, pois o público e o próprio coro passaram a se identificar mais com a parte cênica, deixando o trabalho menos cansativo.

Ressonância criativa

5 Circo Mistico CCBB
O Grande Circo Místico no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Foto: Arquivo Coral Unifesp

Na regência do coral desde 1991, o maestro Edu, como é carinhosamente chamado, frisa que sua inquietação musical encontrou nesse espaço uma liberdade criativa para experimentar, provocar e inovar, mesmo em meio às dificuldades materiais e de infraestrutura. “Uma coisa legal do Coral Unifesp é que nunca me disseram o que eu tinha que fazer, e a questão da liberdade é uma coisa importantíssima para mim, pois é o lugar onde eu experimento. Por exemplo, se tem alguém no coro que escreve, que é um bom compositor, por que não fazer o repertório dele?”, ressalta.

Desde 2003, o grupo se mantém com recursos próprios. O valor arrecadado com a bilheteria dos espetáculos é utilizado para cobrir os gastos com o mesmo e para o pagamento dos direitos autorais das músicas utilizadas aos órgãos responsáveis. Apesar da qualidade profissional do trabalho, trata-se de um grupo amador e o elenco não recebe pagamento de cachê.

Além de presença garantida nos principais eventos da Unifesp, seu trabalho também é reconhecido fora da universidade em festivais de música coral realizados pelo Brasil e nas apresentações no Sesc, Sala São Paulo, Theatro Municipal de São Paulo e no Auditório da Rádio Nacional (RJ), quando encerrou a programação comemorativa de 70 anos da rádio.

Por trás das cortinas

6 Circo Mistico Divulgacao
Divulgação de O Grande Circo Místico. Foto: Arquivo Coral Unifesp

Fora a montagem dos espetáculos, o Coral Unifesp é responsável por outros dois programas:

  • Oficina Vocal: ocorre no primeiro semestre de cada ano e é destinada ao público interno da Unifesp com a finalidade de iniciar musicalmente os(as) participantes. Tem a duração de três meses, totalizando 12 aulas;
  • Coro Cidadão: ocorre no segundo semestre e é aberto para a participação da comunidade externa. Realiza apresentações musicais em locais de assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade, como na Biblioteca Centro de Pesquisa América do Sul Países Árabes África (BibliASPA), que realiza o acolhimento de refugiados(as) e imigrantes, e na Fraternidade Irmã Clara (FIC), casa de acolhida a pessoas com diagnóstico de paralisia cerebral.

Como participar

7 Noiva do Condutor
Espetáculo A Noiva do Condutor. Foto: Marcos Garcia

As inscrições são gratuitas e vão até o final de março, neste link.Os ensaios acontecem às terças e sextas-feiras, das 19h às 21h, no Teatro Marcos Lindenberg (Rua Pedro de Toledo, 697 – Vila Clementino).

“Eu realmente recomendo para todo mundo que cante num coro, que faça parte desse lugar, porque você está fazendo uma atividade artística, o que por si só já é uma coisa muito prazerosa, mas com mais um monte de gente que te ajuda a fazer isso”, convida o maestro Fernandes.


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