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Pesquisa conduzida pelo Instituto do Mar da Unifesp alerta para os riscos das microfibras liberadas por tecidos no ambiente marinho

Escrito por José Luiz Guerra

A poluição dos oceanos por plásticos e resíduos industriais já é um problema amplamente reconhecido, mas um novo estudo conduzido pelo Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pela Universidade Santa Cecília, de Santos, revela um vilão silencioso e cotidiano: as fibras têxteis liberadas por nossas roupas. A pesquisa, publicada recentemente na revista científica Toxics, demonstra que esses fragmentos microscópicos podem prejudicar o desenvolvimento de organismos marinhos e comprometer o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos.

Os pesquisadores analisaram os efeitos de três tipos de fibras – sintéticas (poliéster), naturais (algodão) e mistas – na saúde de embriões de ouriços-do-mar, considerados bioindicadores ambientais. Os resultados foram alarmantes: a exposição a essas partículas causou atrasos no desenvolvimento embrionário e anomalias morfológicas nos organismos testados.

As fibras têxteis chegam ao ambiente marinho de diferentes formas, sendo a principal delas a lavagem de roupas. Durante esse processo, milhares de fragmentos microscópicos se desprendem dos tecidos e são lançados nos sistemas de esgoto, muitos dos quais não possuem tecnologia adequada para filtrar esses resíduos antes que alcancem rios e mares. Além disso, o desgaste natural das roupas durante o uso diário também libera fibras no ar e no solo, que posteriormente podem ser transportadas para os oceanos pelo vento e pela chuva.

Uma das descobertas mais preocupantes do estudo é que as fibras, ao permanecerem por mais tempo na água salgada, tornam-se ainda mais tóxicas. Esse efeito pode estar relacionado à degradação dos materiais no ambiente marinho, que libera compostos químicos prejudiciais aos organismos.

Consequências para a biodiversidade marinha
O impacto das fibras têxteis nos embriões de ouriços-do-mar reforça a necessidade de um olhar mais atento sobre esse tipo de poluição. Segundo os pesquisadores, o desenvolvimento embrionário desses organismos é um indicador da saúde dos ecossistemas marinhos. Alterações nesse processo podem afetar diretamente a cadeia alimentar, causando desequilíbrios ecológicos e impactando a reprodução de diversas espécies.

“Se os organismos marinhos não conseguem se desenvolver corretamente devido à contaminação por microfibras, estamos lidando com um problema ambiental de grandes proporções”, destaca o professor Rodrigo Brasil Choueri (Unifesp), coautor do estudo. “Essas partículas são invisíveis a olho nu, mas seus efeitos podem ser devastadores para os oceanos”.

Soluções e medidas preventivas
Diante dos riscos associados às fibras têxteis, os pesquisadores defendem a adoção de estratégias para monitorar e reduzir sua presença no meio ambiente. Algumas das soluções incluem:
Desenvolvimento de filtros para máquinas de lavar capazes de capturar microfibras antes que cheguem aos sistemas de esgoto.
Uso de materiais menos poluentes na fabricação de roupas, priorizando tecidos que liberam menos partículas durante o uso e a lavagem.
Criação de políticas públicas e programas de monitoramento ambiental para mapear e reduzir a contaminação por fibras têxteis.
Educação ambiental e conscientização da população sobre o impacto das roupas no oceano e formas de consumo mais sustentáveis.

“A solução passa por inovações tecnológicas, mudanças de comportamento e estabelecimento de políticas públicas para compreender e mitigar o problema”, explica o professor Rodrigo. “Escolher roupas feitas de materiais sustentáveis, reduzir a frequência de lavagens quando possível e utilizar dispositivos que filtram microfibras são pequenas ações que podem ter um grande impacto na preservação dos oceanos; além disso, a indústria do fast-fashion e o poder público também desempenham papel fundamental nesse processo”.

Um alerta para a indústria da moda
O estudo da Unifesp reforça a necessidade de repensar os modelos de produção da indústria têxtil, um dos setores que mais geram resíduos no mundo. As descobertas apontam para a urgência de desenvolver tecidos e processos produtivos que minimizem a liberação de microfibras, além de incentivar pesquisas sobre métodos eficazes para mitigar esse tipo de poluição.

Com o avanço das pesquisas, os cientistas esperam que mais países adotem regulamentações para monitorar e reduzir o impacto das fibras têxteis no meio ambiente. Até lá, cabe a cada consumidor fazer escolhas mais sustentáveis e pressionar as empresas por maior responsabilidade ambiental.

O artigo completo pode ser acessado na revista Toxics pelo link: https://www.mdpi.com/2305-6304/12/10/753#.