Pesquisa da Unifesp apresenta suplemento alimentar para abelhas sem ferrão durante períodos de escassez
Em meio ao desmatamento e ao uso de agrotóxicos, pesquisadores(as) desenvolvem alimento para manter a cadeia produtiva
- Detalhes
- Categoria: Destaques
- Acessos: 69
Uma pesquisa, publicada na revista Agriculture, apresentou o desenvolvimento de um suplemento alimentar experimental para as abelhas nativas sem ferrão, da espécie mandaçaia (Melipona quadrifasciata). Essas abelhas, encontradas em regiões como a Mata Atlântica e o Cerrado do Sudeste, estão em risco no Brasil devido à falta de recursos naturais nos períodos de escassez e à perda de seu habitat. O desmatamento e o uso indiscriminado de agrotóxicos agravam ainda mais essa situação, pois as abelhas necessitam de pólen, néctar e um ambiente adequado para sobreviverem e se manterem ativas.
A pesquisa foi conduzida por Patrícia Miranda Pinto, egressa do programa de pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sob a orientação da docente Michelle Manfrini Morais, do Campus Diadema da Unifesp, e foi desenvolvida em parceria com pesquisadores(as) da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil). O estudo buscou criar um suplemento alimentar que simulasse as características nutricionais do pólen fermentado, alimento essencial para o desenvolvimento das colônias. Para isso, a equipe analisou a microbiota presente no chamado “pão de abelha”, uma forma de pólen fermentado consumido naturalmente pelas abelhas, e desenvolveu uma formulação experimental à base de farelo proteico e xarope de açúcar. Nos testes de laboratório, o suplemento mostrou reação positiva por parte das abelhas e composição nutricional idêntica à do alimento natural, oferecendo uma alternativa viável para períodos de escassez e contribuindo para a saúde e a conservação das abelhas nativas.
A professora Michelle Manfrini Morais explica que o sucesso da formulação não dependeu apenas da escolha dos ingredientes especializados, mas também de um processo de fermentação cuidadoso que respeitasse as necessidades específicas das abelhas.
“Foi essencial selecionar ingredientes que oferecessem um perfil nutricional completo para as abelhas, como a albumina em pó, a farinha de arroz e a levedura de cerveja, aliados a fontes energéticas como o açúcar. Além disso, o processo de fermentação com microrganismos nativos do pólen fermentado garantiu que a formulação final se aproximasse ao máximo do alimento natural das abelhas, respeitando sua microbiota específica e sua necessidade de proteínas e nutrientes. Esse cuidado permitiu criar uma solução que apoia o equilíbrio das colônias durante períodos críticos”, revela a docente.
Além de oferecer uma alternativa alimentar, a pesquisa também contribui diretamente para práticas de conservação e manejo sustentável das abelhas nativas.
“Este trabalho não busca apenas oferecer uma solução pontual para a escassez alimentar, mas também ampliar o conhecimento sobre a alimentação das abelhas e como podemos intervir de forma consciente e respeitosa com a biodiversidade. Isso fortalece e ajuda a preservar espécies essenciais para a manutenção dos ecossistemas brasileiros”, ressalta a pesquisadora Patrícia Miranda Pinto.