Em evento preparatório para a COP 30, Unifesp debate a importância da ciência e das universidades no enfrentamento das mudanças climáticas
Atividade reuniu pesquisadores(as) de diversas instituições de ensino, com foco no principal evento mundial da área
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A Unifesp promoveu, na tarde do dia 25 de fevereiro, um evento preparatório para a COP 30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima, que será realizada na cidade de Belém em novembro deste ano. O evento reuniu pesquisadores(as) de diversas instituições e foi transmitido pelo canal Unifesp Ao Vivo no YouTube.
Participaram da abertura do evento a vice-reitora da Unifesp, Lia Bittencourt, a pró-reitora adjunta de Pós-Graduação e Pesquisa e presidente da Comissão COP 30 Unifesp, Suzan Pantaroto de Vasconcellos, e a fundadora do Ilê Axé Omó Nanã e ativista dos direitos humanos, Iyá Adriana de Nanã. O cerimonial ficou sob responsabilidade da servidora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisas (ProPGPq/Unifesp) Tamyres Barbosa.
Suzan destacou que o Brasil será sede da COP 30 e que a realização de um evento que traz duas mesas redondas com a participação de importantes pesquisadores(as) é uma honra para a universidade. “Como universidade pública federal, formadora de pessoas e promotora de políticas públicas voltadas ao bem-estar social, econômico, político, constituímos a Comissão Unifesp COP 30, que realizará inúmeras ações, eventos e formas de engajamento para imergir completamente em atitudes que reflitam sobre o real papel das universidades para a sociedade que nos acolhe”, completou.
“A Unifesp é a universidade do meu coração. Não tive a felicidade de me graduar na Unifesp, mas foi a universidade que abriu as portas não só para mim, mas para a comunidade de matriz africana, e é onde podemos desenvolver nossos projetos”, comentou Iyá Adriana de Nanã, ao agradecer pela possibilidade de participar do evento.
Complementando a abertura, Lia Bittencourt destacou a relevância do evento e lembrou que a Unifesp participou presencialmente da COP 29, realizada no Azerbaijão, no ano de 2024, representada pelos docentes Dan Levy, Renzo Taddei e Ronaldo Christofoletti. Lia também agradeceu à comissão organizadora e aos(as) convidados(as) que realizaram palestras durante o evento. “Acredito que a ciência e as universidades desempenham um papel fundamental e inquestionável no enfrentamento das mudanças climáticas. As universidades são os espaços onde a ciência ocorre, além de produzirem conhecimento, inovação e formam profissionais conscientes, competentes e preparados(as) para os desafios ambientais”, lembrou. A vice-reitora lembrou também que a colaboração da universidade com governos, setor privado e comunidade é essencial para acelerar ações eficazes.
Mesa 1: A importância da Ciência para as Mudanças do Clima
Finalizada a abertura, foi realizada a mesa intitulada A importância da Ciência para as Mudanças do Clima, que contou com as participações dos(as) docentes(as) Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Folhes, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), e Patrícia Morelatto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Paulo Artaxo explicou que a ciência desempenha um papel crucial na compreensão das mudanças climáticas, tendo raízes em pesquisas que remontam há mais de 150 anos. “Essa área do conhecimento é única por sua intensa colaboração entre pesquisadores(as) e governos em todo o mundo”. Artaxo elucidou ainda que a história das mudanças climáticas é marcada por descobertas científicas, como a relação entre a concentração de CO2 e o aumento da temperatura global, o que mostra a importância da ciência na identificação de problemas ambientais. Ao longo da apresentação, citou que documentos e artigos têm mostrado que a humanidade está ultrapassando limites planetários seguros, indicando uma crise ambiental em curso e que as emissões de gases de efeito estufa estão acelerando o aquecimento global de forma alarmante, dando como exemplo as secas em regiões como a Amazônia e o Brasil Central, afetando a produção de alimentos. O docente alertou ainda que a ciência está enfrentando um grande desafio para entender as complexas interações do sistema climático e as mudanças climáticas que afetam a saúde humana e a biodiversidade, sendo fundamental desenvolver estratégias de adaptação e mitigação integradas para lidar com essas questões. Por fim, ponderou que as mudanças climáticas estão ligadas a problemas de saúde pública, como a propagação de doenças tropicais e impactos nas doenças cardiovasculares.
Em seguida, Ricardo Folhes abordou a dependência dos combustíveis fósseis e a crença no progresso técnico, considerados obstáculos significativos para a solução da crise climática. “É necessário repensar as práticas e paradigmas atuais para promover uma transição energética justa”. O desenvolvimento de tecnologias que minimizam as emissões de carbono, segundo ele, é essencial, mas depende de uma mudança no paradigma econômico dominante, sendo necessário questionar a eficácia das soluções atuais. “A transição energética deve ser discutida em termos de justiça social, considerando desigualdades no acesso a recursos energéticos. Essa discussão é crucial para uma abordagem inclusiva”, acrescentou. Além disso, de acordo com o professor, a ciência deve apoiar a construção de um conhecimento amplo sobre os impactos socioambientais das energias renováveis, cuja compreensão é vital para evitar danos a comunidades e ecossistemas.
Completando a mesa, Patrícia Morelatto comentou sobre a importância da ciência para o entendimento das mudanças climáticas e que, mesmo com toda a quantidade de conhecimento produzida ao longo dos anos, ainda há pessoas que a negam. A docente alertou que a perda de biodiversidade e a degradação ambiental estão interligadas às mudanças climáticas e que o equilíbrio entre as espécies contribui para o bem-estar humano. Em relação à COP 30, Patrícia destacou que o evento trará inúmeros desafios para a discussão a respeito da redução da emissão de CO2, dentre os quais destacou a ausência confirmada dos Estados Unidos, um dos maiores emissores desse gás no planeta. Falou também a respeito da injustiça social que é exacerbada pelas mudanças climáticas, com os países mais ricos contribuindo mais para as emissões, enquanto os mais vulneráveis sofrem os impactos. “A educação sobre mudanças climáticas é crucial para que as pessoas entendam os desafios e possam agir. A conscientização pode gerar um maior engajamento e soluções mais eficazes”, comentou. Ela concluiu sua fala destacando que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) servem como um guia para a ciência e a sociedade, promovendo uma abordagem colaborativa em direção a um futuro sustentável e consciente. “A integração da ciência nas políticas públicas é vital para desenvolver soluções efetivas para os desafios climáticos. A colaboração entre cientistas e tomadores(as) de decisão pode transformar cenários atuais”, finalizou.
Ao final das apresentações, foi realizado um debate entre os(as) expositores(as), mediado por Suzan Pantaroto.
Mesa 2: A Atuação das Universidades na conferência das partes - Rumo à COP 30
A segunda mesa foi composta pelos docentes Alexandre Strapasson, da Universidade de Brasília (UNB), Moacyr Araújo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Dan Levy, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Alexandre Strapasson começou sua exposição explicando que o assunto da mudança do clima vai muito além de uma questão ambiental, pois envolve aspectos sociais, políticos e de desenvolvimento internacional. Segundo ele, a participação de cientistas nas negociações climáticas é crucial, mas ainda é limitada em eventos paralelos. “É importante que as discussões científicas influenciem as decisões políticas durante a COP 30”, pontuou. A importância de argumentos científicos nas negociações climáticas é ressaltada, especialmente em eventos como a COP 30, que devem integrar mais a ciência, o que pode ajudar a mudar a abordagem das negociações. De acordo com Strapasson, as flutuações políticas nos países anfitriões impactam diretamente as negociações climáticas, como demonstrado pela resistência em discutir práticas de redução de emissões em países produtores de petróleo. O docente entende que essas discussões não deveriam se restringir apenas às COPs, mas poderiam ser pautadas nas reuniões de grupos de países, como os Brics, por exemplo. Em relação às discussões do tema entre as universidades, a necessidade de uma rede de instituições comprometidas com as questões climáticas é mencionada pelo docente, sugerindo a formação de uma aliança brasileira para unir esforços e promover ações concretas. Dentro das universidades, particularmente, ele acredita ser necessária a reformulação do currículo, a fim de que se possa discutir com mais afinco a questão ambiental, além de fazer com que o tema possa ser abordado por diferentes instâncias acadêmicas. “É preciso pensar em núcleos de pesquisas que agreguem diferentes departamentos, pois é importante termos, para além de universidades que conversem, departamentos que conversem entre si, pois se não falamos sobre o tema dentro de nossa própria universidade, fica difícil”, comentou. Finalizando sua intervenção, Strapasson apontou fatores importantes para que o tema seja melhor debatido, como a pedagogia crítica, diálogo acessível e direto e novas oportunidades de trabalho.
Na sequência, Moacyr Araújo enalteceu as universidades públicas brasileiras, responsáveis por parte significativa da produção científica na área de mudanças climáticas, o que as tornam fundamentais no debate sobre essas políticas. “O papel das universidades é fundamental nas discussões sobre mudanças climáticas, mas sua participação é fragmentada e precisa ser mais coesa e visível. É essencial que as instituições se unam para fortalecer sua influência na COP 30 e em iniciativas climáticas”, ponderou Araújo, indicando que as universidades brasileiras têm iniciativas individuais em questões climáticas, mas essas ações não se comunicam de forma eficaz entre si e defendeu a proposta de criar uma rede de universidades para ajudar a integrar esses esforços. “Quero parabenizar a Unifesp por trazer essa oportunidade de pensarmos em conjunto qual o papel das universidades na COP 30”, completou, propondo que esse debate seja levado também à Andifes. Ainda no âmbito das universidades públicas, Araújo destacou a importância da curricularização da extensão, ação que pode aproximar as universidades da sociedade, permitindo uma comunicação mais efetiva sobre os riscos das mudanças climáticas. Em relação à COP 30, o docente a classifica como uma oportunidade única para o Brasil assumir um papel de liderança nas discussões sobre mudanças climáticas, especialmente após a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, o que abre espaço para colaborações mais efetivas com a China, por exemplo. “Daqui até novembro, quando ocorrerá a COP 30, temos o enorme desafio de fazer com que todo mundo fale sobre o tema, por meio da conscientização”, completou.
Finalizando a mesa, o docente da Eppen/Unifesp Dan Levy, nascido em Belém, cidade que sediará a COP 30, fez uma breve descrição da região na qual a cidade está localizada, enfatizando os aspectos culturais, gastronômicos e geográficos e sobre a infraestrutura que está sendo preparada para a realização do evento e destacou as emergências que a região enfrentou, em 2024, por conta do aquecimento global, dando como exemplo as grandes secas dos rios na Amazônia, que afetaram gravemente a população local. “A desigualdade nos efeitos das mudanças climáticas afeta principalmente os mais vulneráveis, como os povos indígenas e as comunidades quilombolas. É essencial reconhecer essas desigualdades em fóruns internacionais”, afirmou. Dan Levy classificou a COP 30 como um evento histórico, pois será realizada, depois de três anos, fora do Oriente Médio, região na qual estão os grandes exportadores de petróleo no mundo e destacou temas importantes que deverão ser colocados em debate, como o financiamento climático para mitigação da emissão de gases do efeito estufa, adaptação dos países às consequências da crise climática, reparação por perdas e danos, em razão das desigualdades dos efeitos extremos das mudanças climáticas, que afetam os mais vulneráveis, além de temas mais atuais, como racismo ambiental e justiça climática. “Essa é a COP da apresentação das soluções, quando devemos primar pela efetividade desses instrumentos e de todo esse arcabouço que é gerado com esse evento”. Dan Levy enalteceu o trabalho da Comissão Preparatória para a COP 30 da Unifesp na organização do evento. “Não dá para realizar um evento desses sem o papel preponderante da ciência e não dá para ter mitigações e adaptações para as mudanças do clima sem a ciência. Por isso é importante que as universidades tenham esse papel preponderante”. Destacou, por fim, o trabalho desenvolvido pela Unifesp, no âmbito do ensino, pesquisa e extensão relacionados às mudanças climáticas.
O evento foi encerrado por Iyá Adriana de Nanã, que agradeceu pela participação e reforçou a importância das falas apresentadas, enfatizando a questão do racismo ambiental. “O grande problema das emergências climáticas que já estamos vivenciando é que, quem sofre mais, tanto nas questões de saúde, quanto em todos os efeitos da emergência climática, a falta de alimento, o encarecimento dos alimentos e as estruturas das residências são as pessoas mais pobres e, tratando-se de Brasil, as pessoas mais pobres são as pessoas negras”. A ativista destacou os projetos de extensão desenvolvidos na Unifesp que estão relacionados ao tema e reforçou a importância das universidades nesse processo. “Estou muito feliz de poder ter acompanhado esse seminário em uma universidade na qual somos acolhidos(as)”, finalizou.