Dependência de jogos é um dos temas da nova temporada do PodSerCiência
Psiquiatra da Unifesp fala sobre dependência, implicações fisiológicas e busca por ajuda
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A dependência de jogos eletrônicos tem sido cada vez mais debatida no meio científico, principalmente após a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluir, em 2018, o transtorno de jogo na Classificação Internacional de Doenças (CID). No podcast PodSerCiência, o psiquiatra Aderbal Vieira, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aprofunda a discussão sobre os impactos fisiológicos do problema e como identificar o momento de buscar ajuda. Para escutar o episódio com outras informações, acesse aqui.
Segundo Vieira, a atratividade dos jogos eletrônicos não é acidental, destacando também que eles são projetados para atrair a atenção do(a) jogador(a). "Certa vez, alguém da imprensa me perguntou: 'doutor, por que os jogos são tão interessantes? Tão coloridos, cheios de sons, com histórias envolventes? Por que são tão divertidos?' E eu respondi: 'Justamente por isso — esse é o objetivo! Você quer vender um jogo que prenda a atenção, que encante, que as pessoas queiram jogar'", explica.
Contudo, esse alto grau de imersão pode fazer com que algumas pessoas percam o controle do tempo gasto jogando, impactando negativamente sua rotina.
Quando o jogo deixa de ser diversão e vira um problema
Vieira lembra que os primeiros jogos eletrônicos, como o Pong, tinham baixo potencial viciante devido à sua simplicidade."Quando aquilo que você está fazendo não é tão prazeroso ou envolvente, naturalmente terá um potencial aditivo menor", explica.
O psiquiatra também destaca que não há um perfil único para a dependência. "Tem aquela pessoa que passa o dia todo colocando moedinha para preencher a vida. E tem aquela pessoa que busca adrenalina, emoção, o tudo ou nada – capaz de perder o salário do mês em apenas 10 minutos. Ou seja, os tipos de pessoas variam, assim como os tipos de uso e os comportamentos, de acordo com uma série de critérios", afirma.
Para avaliar se o jogo está se tornando um problema, Vieira sugere observar se ele está prejudicando outras atividades essenciais. “Se eu sou cirurgião e estou no meio de uma operação, bastam três segundos olhando o celular para atrapalhar tudo – posso comprometer o procedimento e causar um grande problema. Agora, se é um sábado tranquilo, estou em casa sem muito o que fazer e acabei de comprar um jogo novo, superinteressante, posso passar horas jogando sem grandes consequências. Depois de um tempo, a novidade passa, o encanto diminui, e na semana seguinte já jogo menos, e menos ainda depois disso.”
A dependência pode ir além dos jogos
Vieira reforça que a dependência não está restrita apenas ao consumo de substâncias ou ao uso excessivo de jogos eletrônicos. "A dependência pode se manifestar de várias formas, não apenas em relação a substâncias. Você pode ficar dependente de comportamentos: se envolve em uma relação com esse comportamento, que tem todas as características de dependência; é possível, por exemplo, desenvolver uma dependência afetiva. Em alguns casos, isso é chamado de codependência: uma forma de dependência em que o 'objeto' é outra pessoa", explica o psiquiatra.
Quando e onde buscar ajuda?
Saber reconhecer o momento certo de buscar apoio é essencial para evitar que a dependência cause danos ainda maiores. “Quando algo começa a incomodar, é sinal de que a pessoa precisa agir. Algumas conseguem se ajustar sozinhas, com os próprios recursos. Mas, se isso não for suficiente, aí sim, é hora de buscar ajuda”, orienta Vieira.
Para quem precisa de suporte, o Proad/Unifesp conta com uma equipe multidisciplinar que, primeiramente, irá realizar a triagem para, posteriormente, encaminhar para um atendimento especializado. O contato pode ser feito pelo telefone (11) 99645-8038.
A dependência de jogos é um problema real e requer atenção. O mais importante é reconhecer os sinais e, se necessário, buscar apoio profissional.