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Pesquisa publicada na revista Nature Scientific Reports aponta variações regionais na incidência de energia solar e seus efeitos na transição energética e na segurança elétrica do Brasil

Escrito por Ligia Gabrielli
A imagem mostra um painel solar fotovoltaico em destaque contra um fundo alaranjado de um pôr ou nascer do sol. O painel, inclinado para capturar a luz solar, está montado em uma estrutura metálica com fiação visível. A cena evoca um ambiente quente e ensolarado, sugerindo o uso de energia solar como fonte de energia limpa e renovável.
(Imagem ilustrativa)

Um estudo liderado pelo docente do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp) - Campus Baixada Santista Fernando Ramos Martins, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresenta uma análise inédita sobre os impactos das mudanças climáticas na geração de energia solar no Brasil. Publicado nesta semana na revista Nature Scientific Reports, o estudo revela como a incidência solar pode variar nas próximas décadas e quais os reflexos para a transição energética e o sistema elétrico nacional.

A pesquisa projeta que, nas próximas décadas, a maior parte do território brasileiro terá um aumento na disponibilidade de energia solar entre 2% e 8%, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. No entanto, as previsões para a região Sul indicam uma redução de cerca de 3%, devido ao crescimento econômico acelerado e ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Um dos destaques da pesquisa é o aumento da energia solar nos meses mais secos do ano, o que pode reduzir a vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro, dependente das hidrelétricas, que frequentemente sofrem com baixos volumes de água nos reservatórios durante períodos de seca prolongada.

“Nosso estudo aponta que a energia solar pode ser uma aliada na manutenção do sistema elétrico, especialmente em áreas remotas da Amazônia, onde a rede de transmissão não chega e as comunidades dependem de geradores a combustível fóssil”, destaca Fernando Martins.

Variações regionais e impactos econômicos

A pesquisa revela que as regiões Centro-Oeste e Sudeste terão um aumento significativo na produtividade de geração solar. Minas Gerais, por exemplo, pode registrar um crescimento de até 5% na incidência solar durante a primavera. Por outro lado, no Rio Grande do Sul e na costa equatorial do Nordeste, as projeções apontam para uma redução de até 4% na média anual de energia solar.

Essas variações regionais são consistentes com outros estudos sobre mudanças climáticas, como o aumento da precipitação no Sul e a redução no Norte. Isso afeta diretamente a produtividade solar e a resiliência do sistema elétrico”, explica Rodrigo Costa, do Inpe.

O estudo também sugere que o Brasil deve considerar a geração híbrida – combinando energia solar e eólica – em regiões com queda na produtividade solar, como o litoral nordestino e o Sul do país.

Transição energética e desafios para o futuro

A energia solar já responde por 97% da capacidade instalada de micro e mini geração distribuída no Brasil, com sistemas instalados principalmente em áreas urbanas e locais fora do Sistema Interligado Nacional (SIN). Com o aumento da produtividade solar em grande parte do país, a energia solar pode desempenhar um papel estratégico na transição energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e aumentando a resiliência do sistema elétrico.

No entanto, o estudo alerta que o impacto econômico das variações na incidência solar precisa ser avaliado cuidadosamente. “A incidência solar afeta setores como a agricultura e a saúde pública, mas sua relação com a economia é complexa e depende de fatores regionais específicos, como os custos de eletricidade e as culturas agrícolas locais”, explica o docente.

A pesquisa é parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-Mudanças Climáticas) e contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A publicação na Nature reforça a relevância internacional da pesquisa brasileira e o papel da Unifesp na produção de conhecimento científico de impacto global.

Os resultados fornecem subsídios importantes para a formulação de políticas públicas que promovam o uso sustentável da energia solar e aumentem a resiliência do sistema elétrico brasileiro às mudanças climáticas. “À medida que enfrentamos eventos climáticos extremos e buscamos limitar o aumento da temperatura global, o aproveitamento eficiente da energia solar será essencial para garantir a sustentabilidade e segurança do nosso sistema energético”, conclui Martins.

O Brasil, que se prepara para liderar discussões energéticas globais no G20 e na COP30, encontra na pesquisa um guia estratégico para consolidar sua transição energética e reduzir sua pegada de carbono.

 

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