Relatório nacional sobre demência revela cenário preocupante e desafios para o futuro no Brasil
Ministério da Saúde e Unifesp destacam necessidade de ações preventivas e diagnóstico precoce para a condição que afeta milhões de brasileiros
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(Imagem: capa do relatório/reprodução)
Em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Ministério da Saúde lançou, no dia 20 de setembro, o Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras, durante evento na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. Coordenado pela professora do programa de pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Unifesp Cleusa Ferri, o relatório apresenta dados inéditos e atualizados sobre a demência no Brasil, destacando a gravidade da condição e a urgência de ações para prevenção, diagnóstico e tratamento/cuidado.
De acordo com o relatório, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais vive com demência, o que representa aproximadamente 2,71 milhões de pessoas. As projeções indicam que, até 2050, esse número poderá alcançar 5,6 milhões de brasileiros, evidenciando a necessidade de políticas públicas que atendam a essa crescente demanda.
A demência é um conjunto de sintomas que comprometem progressivamente a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem e o julgamento. É uma condição que afeta a qualidade de vida da pessoa com demência e, também, o cotidiano de familiares e cuidadores que precisam lidar com os desafios do cuidado contínuo. A docente destacou que o aumento da expectativa de vida no Brasil tem contribuído para o crescimento do número de pessoas com demência, reforçando a necessidade de estratégias para prevenção e tratamento adequados.
O relatório mostra que a prevalência da demência é maior entre as mulheres, com 9,1% dos diagnósticos - enquanto entre os homens esse percentual é de 7,7%. Também foram observadas variações regionais: o Nordeste apresentou a maior prevalência, com 10,4%, enquanto a região Sul teve a menor taxa, com 7,3%. O relatório também aborda o estigma associado à demência, que impacta diretamente a busca por diagnóstico e tratamento, e está entre as razões para as altas taxas de subdiagnóstico encontradas no relatório. Cerca de 80% das pessoas com demência no Brasil não estão diagnosticadas, e que estas taxas são mais altas nas regiões norte e nordeste. A desinformação e o preconceito dificultam a integração social e o apoio às pessoas com demência e seus cuidadores, tornando a conscientização pública sobre a doença uma prioridade. Esses dados ressaltam a necessidade de políticas de saúde que considerem as diferenças regionais e busquem atender as necessidades das pessoas com demência e seus familiares em todo o país .
O secretário-adjunto de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Jérzey Timóteo, ressaltou a importância da elaboração do relatório em parceria com a Unifesp: "Esse trabalho conjunto é uma oportunidade de conhecer a realidade da população brasileira e os fatores de riscos modificáveis. A atenção primária tem um papel chave, na qual podemos atuar no processo de promoção, prevenção, diagnóstico oportuno e, por fim, articular com a atenção especializada para um cuidado específico".
Atenção primária e diagnóstico
Durante o evento, foi apresentado um fluxograma para a identificação da demência na Atenção Primária à Saúde (APS) , desenvolvida pela equipe da Unifesp que busca apoiar a qualificação de profissionais generalistas e promover um diagnóstico oportuno. A ideia é que o diagnóstico seja realizado por uma equipe multidisciplinar, garantindo que a identificação precoce da condição seja feita, permitindo um tratamento mais eficaz e personalizado para os pacientes.
O relatório também destaca que aproximadamente 48% dos casos de demência poderiam ser prevenidos ou retardados, caso os 12 fatores de risco mais bem estabelecidos pudessem ser eliminados. Entre esses fatores modificáveis estão a baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social. Cleusa Ferri destacou que a promoção de hábitos saudáveis e a prevenção ao longo da vida são essenciais para reduzir a incidência de demência no futuro.
Perspectivas
A divulgação do Relatório Nacional sobre Demência representa um passo fundamental para a compreensão do cenário da doença no Brasil e a necessidade de aprimoramento das políticas públicas de saúde. Ao abordar a demência de maneira multidisciplinar, com foco na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz, o relatório busca oferecer subsídios para o desenvolvimento de ações que possam melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias.
O Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras está disponível para consulta pública e serve como um guia para profissionais de saúde, gestores, familiares e toda a sociedade brasileira na busca por soluções eficazes para enfrentar a demência no país.