Unifesp promove palestra com Siyabulela Mandela
Atividade fez parte do evento Ações Afirmativas e Educação: diálogos África do Sul e Brasil
- Detalhes
- Categoria: Institucional
- Acessos: 123
Além de Siyabulela Mandela, compuseram a mesa de abertura Raiane Assumpção, Ellen de Lima Souza, Suzan Pantaroto e Karen Spadari
A Universidade Federal de São Paulo, por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas (Praepa), promoveu, na tarde do dia 13/2, uma palestra com o professor e ativista na área de direitos humanos e igualdade racial Siyabulela Mandela. A atividade fez parte do evento Ações Afirmativas e Educação: diálogos África do Sul e Brasil, que integra o curso Pertencimento e a Política Carolina Maria de Jesus, e foi transmitida pelo canal Unifesp Ao Vivo no YouTube. Siyabulela Mandela é bisneto de Nelson Mandela, primeiro presidente negro da África do Sul, entre 1994 e 1999, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1993 e figura histórica na luta contra o Apartheid.
Além de Siyabulela Mandela, compuseram a mesa de abertura a reitora, Raiane Assumpção, as pró-reitoras adjuntas de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas, Ellen de Lima Souza, e de Pós-Graduação e Pesquisa, Suzan Pantaroto, e a secretária de Relações Internacionais, Karen Spadari.
Karen Spadari, secretária da SRI
Karen Spadari deu início às falas da mesa de abertura agradecendo pelo convite feito e saudou os(as) demais componentes da mesa, em especial Siyabulela Mandela, reforçando sua atuação acadêmica, ativismo, além de destacar similaridades entre Brasil e África, em especial na área da educação. “Não temos outro caminho a percorrer que não seja por meio da educação, para que possamos ter um mundo melhor, uma vida melhor. Então, eu espero que a partir de hoje as nossas relações sejam mais estreitas com a Nelson Mandela University para que tenhamos ações mais efetivas que sejam importantes para ambas instituições e para o mundo”.
Em seguida, Suzan Pantaroto, em participação por videoconferência, falou da atuação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa no que tange à Política Carolina Maria de Jesus, tais como a implantação das bancas de heteroidentificação, a reserva de vagas para candidatos(as) pretos(as), pardos(as) e indígenas. “A garantia da não promoção do racismo estrutural, institucional e quaisquer formas de discriminação, desigualdade ou preconceito relacionados à cor, raça, credo, etnia ou qualquer condição é um real compromisso institucional, onde a nossa Pró-Reitoria vem atuando fortemente junto à Praepa”, ponderou. Suzan também parabenizou a Praepa pela realização do evento e de outras diversas ações institucionais voltadas ao tema.
Ellen de Lima Souza, pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas
Na sequência, a pró-reitora adjunta da Praepa agradeceu os servidores e servidoras que atuaram fortemente pela implementação da Política Carolina Maia de Jesus na Unifesp, aos membros da Ebony English, entidade que apoiou na tradução do evento para a língua Portuguesa, e lembrou que o evento é a segunda ação que integra o curso Pertencimento e a Política Carolina Maria de Jesus, sendo que o primeiro encontro, realizado em setembro de 2024, contou com a palestra da escritora e ativista Cida Bento. Ellen celebrou a possibilidade de receber a visita de Siyabulela Mandela e de debater o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, premissa estabelecida na Lei de Diretrizes e Bases. “Essa possibilidade que temos aqui hoje, recebendo o nosso querido “Dr. Madiba”, é a quem eu agradeço e faço toda a deferência pela história de luta, pela brilhante trajetória, mesmo tão jovem, e também pelo reconhecimento da ancestralidade, porque ele é uma pessoa que nos inspira. Poder olhar para o “Dr. Madiba” hoje é a certeza de que nós podemos chegar cada vez mais longe, levando como meta também o que estabeleceu o bisavô dele, Nelson Mandela, e também tantas outras lutas de diálogos fundamentais que vão estruturar o movimento negro no Brasil”. Também agradeceu aos docentes do Departamento de Educação da USP que ajudaram na concepção da política Carolina Maria de Jesus na Unifesp.
Completando a mesa de abertura, a reitora, Raiane Assumpção, agradeceu a equipe da Praepa que se colocou no processo de organização da Política Carolina Maria de Jesus, a SRI pela atuação junto às instituições estrangeiras, em especial as que integram a relação Sul-Sul, política de internacionalização que prioriza a relação entre a América Latina e a África, às pró-reitorias de Graduação, de Extensão e Cultura e de Pós-Graduação e Pesquisa pelo apoio na implementação das políticas afirmativas nos cursos e programas e enalteceu a presença de Siyabulela Mandela. “É motivo de muita honra para nós poder contar com a presença do Prof. Dr. Madiba, tanto pelo significado dele enquanto professor e doutor na área, como também pelo significado simbólico de uma tradição, de uma luta, de uma hereditariedade que tem como símbolos a liberdade e a luta para que a equidade exista entre os povos, e entre a humanidade”.
Raiane Assumpção, reitora da Unifesp, durante a mesa de abertura
Em relação à implementação das cotas, a reitora relembrou todo o histórico da universidade nessa área, iniciada antes mesmo da criação da Lei de Cotas na graduação, passando pela implementação na pós-graduação e nos concursos públicos para docentes e técnicos(as) administrativos(as) em educação, tornando-se referência na área. “Tudo isso vai fazendo com que a nossa universidade possa dialogar e avançar no seu papel institucional de formação, criação de políticas públicas, e também para que tenhamos uma sociedade com uma consciência e com relações estabelecidas de forma mais equânime e justas”, completou. Ao final de sua fala, a reitora entregou uma lembrança da Unifesp a Siyabulela Mandela.
Reitora entregou uma lembrança da Unifesp a Siyabulela Mandela
Encerrada a mesa de abertura teve início a mesa de debates do evento, da qual participaram Siyabulela Mandela, Thaís Marie Camargo Sena, estudante de Mestrado em Educação na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos e professora da Ebony English, que, na ocasião, fez a tradução do evento, Rosenilton Silva de Oliveira, professor livre-docente da Faculdade de Educação da USP e Rodrigo Eduardo Faustino, fundador da Ebony English.
Siyabulela Mandela destaca a ancestralidade, identidade e história
Durante sua palestra, Siyabulela Mandela, se apresentou, mencionando sua ancestralidade e a importância de reconhecer as contribuições de seus antepassados, destacando a conexão entre identidade e história. O palestrante expressou a importância de discutir ações afirmativas, ressaltando ser um tema complexo, que frequentemente gera controvérsias e compartilhou suas experiências de ativismo e os desafios enfrentados em ambientes acadêmicos.
Siyabulela Mandela durante sua palestra
Em relação às suas experiências em diferentes países, Mandela destacou as semelhanças entre as lutas sociais no Brasil e na África do Sul e a necessidade de colaboração entre países que enfrentam problemas sociais semelhantes, sugerindo que estratégias conjuntas poderiam ser desenvolvidas para abordar essas questões. “As condições sociais e materiais do Brasil e da África do Sul são semelhantes, refletindo a continuidade da opressão histórica. Isso se manifesta nas favelas brasileiras e nas “townships” sul-africanas, onde a desumanização é evidente”, apontou.
Mandela trouxe o exemplo de como a África do Sul atua na implementação de ações afirmativas, buscando corrigir injustiças históricas causadas pelo colonialismo e racismo, impondo um desafio significativo na sociedade sul-africana, afetando o acesso à educação pública e oportunidades iguais de trabalho para a população negra. Esse legado ainda impacta as novas gerações. “As instituições educacionais na África do Sul foram, historicamente, desenhadas para excluir a população negra, perpetuando um ciclo de desigualdade. Essa realidade é um reflexo de um sistema que não foi feito para todos”.
Plateia acompanhando a palestra de Siyabulela Mandela
Sobre a mudança na educação, afirmou que as transformações institucionais no processo de formação de professores são cruciais para enfrentar os desafios da educação básica e revelam a necessidade de uma abordagem inclusiva e diversificada na formação, sendo fundamental a descentralização do currículo e o reconhecimento das línguas nacionais e suas culturas, o que permite uma educação que respeita e valoriza a diversidade cultural e identitária dos estudantes.
Por fim, em relação ao legado de seu bisavô, Mandela destacou a importância de se lutar contra injustiças para que as gerações futuras não sofram as mesmas experiências. “A importância da mudança social na África do Sul promovida por Madiba é inegável. Ele perdeu 27 anos de vida, mas seu impacto foi significativo e duradouro. Em apenas cinco anos, Madiba conseguiu promover transformações que o Apartheid não conseguiu alcançar em um século”, finalizou.
Após a fala de Mandela, Rosenilton Silva de Oliveira apresentou os resultados de uma pesquisa multidisciplinar, realizada em escolas e comunidades sul-africanas, da qual participaram a USP, a Unifesp e a UERJ, além da University of the Western Cape, da África do Sul, que buscou investigar o processo de transformação das diferenças socioculturais em desigualdades sociais expressos no interior de sociedades multiculturais e sua reprodução em contextos escolares, além de compreender em que consistia uma educação antirracista. na sequência, Rodrigo Faustino enalteceu a presença de Siyabulela Mandela em um evento acadêmico no Brasil e fez um questionamento acerca da possibilidade de trabalho conjunto entre a diáspora e o continente africano.
Finalizando o evento, Ellen de Lima Souza agradeceu a todos(as) os(as) presentes no evento, pela parceria institucional com as pró-reitorias de Extensão e Cultura, de Graduação, e de Pós-Graduação para a realização do evento e, em especial, pela possibilidade da realização de pesquisas que buscam compreender e valorizar a cultura e a sabedoria ancestral.
Fotos: Alex Reipert