Universidade Federal de São Paulo

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Evento foi realizado entre os dias 16 e 22 de novembro

Escrito por Organização SCN


(Foto: Davi Ogata)

A manhã do dia 16/11 marcou a abertura oficial da Semana da Consciência Negra da Universidade Federal de São Paulo 2024 (SCN Unifesp 2024), com uma mesa solene que reuniu importantes nomes do movimento negro, da academia e da cultura. O evento, realizado no auditório da Reitoria, celebrou a luta pela igualdade racial, a resistência das epistemologias negras e a conexão de saberes ancestrais com o conhecimento acadêmico contemporâneo.

A cerimônia de abertura da SCN Unifesp 2024, conduzida pela servidora Tamyres Cristine Xavier Barbosa, foi marcada por reflexão e celebração. A semana universitária deste ano se destacou pela inovação na organização, com a criação de uma comissão colegiada composta por representantes de todas as categorias da universidade: uma técnica administrativa em educação, Isabel Cristina da Conceição, um discente, Maurício de Sena Monteiro, e uma docente, Ana Maria do Espírito Santo. 

Esse formato colaborativo fortaleceu a diversidade e a inclusão no evento, que contou com 86 atividades ao longo da semana, abordando uma ampla gama de temas. Durante os discursos de abertura, Isabel e Maurício enfatizaram a importância de a universidade ser um reflexo de uma sociedade mais justa e inclusiva, agradecendo o trabalho de todos os envolvidos nesse processo. O agradecimento especial foi direcionado à Ana Maria do Espírito Santo, coordenadora docente, cujo apoio e dedicação foram essenciais para a realização do evento.

A mesa de abertura foi composta, também, pela reitora da Unifesp, Raiane Assumpção, pela pró-reitora Adjunta de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas, Ellen de Lima Souza, pela pró-reitora de Extensão e Cultura, Débora Galvani, e por Taata Nkisi Katuvanjesi, doutor honoris causa pela Unifesp, líder da Comunidade Tradicional Centro Africana Inzo Tumbansi, político e sacerdote religioso.

A imagem mostra uma mesa composta por quatro mulheres sentadas lado a lado em um ambiente formal, como um auditório ou sala de conferências. Todas estão atrás de uma mesa decorada com uma toalha de padrão africano e arranjos de flores. No centro da mesa, há o logotipo da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com o texto abaixo: "Universidade Federal de São Paulo - 1933".  Na frente da mesa, aparecem objetos decorativos relacionados à cultura africana, incluindo uma escultura de madeira de um rosto e uma peça artística que parece ter folhas verdes. Sobre a mesa, há garrafas de água e outros materiais que podem ser de uso das participantes.  O ambiente sugere um evento cultural ou acadêmico voltado para temas de diversidade, cultura africana ou questões sociais.
(Foto: Davi Ogata)

A fala de Taata Nkisi Katuvanjesi destacou a conexão entre os saberes tradicionais africanos e a academia, evidenciando o compromisso da universidade com o processo de decolonialidade.

"Talvez seja por um milagre que ainda sejamos 57% da população brasileira e, ainda assim, menos de 2% conhecem seus valores civilizatórios ancestrais", afirmou Ellen de Lima Souza. Débora Galvani, por sua vez, destacou a importância de reconhecer e integrar as diferentes epistemologias presentes na universidade, ressaltando o papel fundamental da extensão universitária como elo entre a academia e as comunidades, promovendo um verdadeiro encontro entre saberes.

A cerimônia foi encerrada com uma reflexão da Reitora da Unifesp, Raiane Assumpção, que reafirmou o compromisso da universidade com a luta antirracista e com a promoção de formas de acesso à educação para toda a sociedade. Ela ressaltou que, embora a universidade tenha avançado consideravelmente em sua missão de inclusão, o grande desafio subsiste na permanência estudantil. A reitora também destacou que o mês de novembro oferece uma oportunidade de reflexão sobre os progressos conquistados ao longo do ano, mas também sobre os aspectos em que a universidade ainda precisa avançar. Nesse sentido, a Semana da Consciência Negra, especialmente com o tema escolhido para 2024, cumpre um papel fundamental ao reafirmar que existem múltiplas formas de pensar e de saber. "Somente é possível desenvolver teorias e construir conhecimentos quando essas ideias são retroalimentadas pela realidade vivida", afirmou Raiane, sublinhando a importância de integrar essas perspectivas, em particular as das populações negras, ao ambiente acadêmico, para que a universidade seja realmente plural e representativa.

Em seguida, o debate intitulado Fortalecendo a Academia e a Sociedade: a resistência das epistemologias negras e a conexão de saberes reuniu convidados(as) para uma conversa profunda sobre temas como a violência policial motivada pelo racismo, o racismo institucional, a luta por justiça e a espiritualidade ancestral. O encontro foi marcado por intervenções que contribuem para a resistência e a construção de uma sociedade mais justa. Participaram do debate Oba Adekunle Aderonmu, presidente do Centro Cultural Africano, Cristiane Linhares, advogada e presidente do Instituto Ponto de Luz, KL Jay, Dj e integrante do grupo Racionais MC's, Marquinhos Sensação, cantor, Maria Cristina Portugal, ativista de direitos humanos, e Nadir de Campos Júnior, procurador de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo.

A apresentação da mesa foi realizada pela mediadora Júlia Barbosa Machado Rosa, discente e membra do Coletivo Acadêmico Eppen Preta. Júlia afirmou que, ao discutirmos as epistemologias negras, nos referimos não apenas a saberes construídos por povos negros, mas à resistência histórica de suas formas de conhecer, interpretar e transformar o mundo. “Essa resistência epistemológica é o ato de transformar a dor em potência, a exclusão em luta e a invisibilidade em protagonismo”, comentou Júlia. Antes de dar a sequência à apresentação dos membros da mesa de debates, Júlia saudou os coletivos e núcleos negros da Unifesp, como a Eppen Preta do Campus Osasco, o Núcleo Negro Unifesp Guarulhos (NNUG), o Dona Ivone Lara e o Reflexos de Palmares da Baixada Santista. Saudou, também, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) e todos(as) os(as) organizadores(as) da Semana da Consciência Negra 2024.

A imagem mostra um grupo de pessoas posando para uma foto em um auditório. O grupo inclui homens e mulheres de diferentes idades e estilos, e alguns seguram buquês de girassóis, sugerindo um momento de celebração ou homenagem. Ao fundo, há uma projeção com texto que inclui o nome "Marcos César de Sousa - Marquinhos Sensação", possivelmente referindo-se a um homenageado ou tema do evento. Também há logotipos e menções a uma "Comunidade Negra".  Entre os participantes, há diversidade de roupas, incluindo trajes formais e tradicionais, como uma vestimenta dourada com influência africana e colares de contas. A cena reflete um evento cultural ou acadêmico, destacando a celebração de identidades e realizações afrodescendentes. A atmosfera é de alegria e reconhecimento.
(Foto: Liduina Oliveira)

A discussão da mesa teve início com a participação de Maria Cristina Portugal, que trouxe a importância da conscientização sobre o racismo na luta pela justiça e equidade. Ela é colaboradora na pesquisa conduzida pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) sobre as evidências da ação policial no Baile DZ7 de Paraisópolis. Seu filho, Denys Henrique Quirino, aos 16 anos, foi uma das vítimas da operação policial no Massacre de Paraisópolis em dezembro de 2019. Ela, juntamente com outras mães e familiares, lideram o movimento “Os 9 que perdemos”.

Em seguida, Cristiane Linhares abordou a importância da representatividade negra na advocacia e na luta por igualdade racial no sistema judicial. “Quando uma pessoa negra é a agressora, é tratada como ameaça para a sociedade, mas quando o agressor é branco, não é tratado como um perigo para a sociedade”. A advogada denunciou situações de violação de direito de denúncia e investigação quando a pessoa negra é vítima, e o racismo estrutural para se fazer valer a lei. Em continuidade ao assunto, o Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, Nadir de Campos Júnior salientou o papel fundamental das instituições públicas no combate à discriminação racial, além de relatar. que magistrados(as) negros(as) também sofrem racismo para exercer suas atividades dentro do proprio sitema judiciário.

O relato autobiográfico de Marquinhos Sensação, cuja música carrega a voz das periferias por meio do samba e do pagode, levou o público a refletir sobre a desigualdade social que exime oportunidades e possibilidades da população negra periférica obter, de fato, sua ascensão social. Em seguida, KL Jay denunciou que toda a estrutura econômica e social brasileira foi construída para a população branca e assim funciona até hoje. Ele trouxe, em sua voz, a ordem de viabilidade de ascensão social para a comunidade negra pela autonomia e independência. Oba Adekunle Aderonmu finalizou o debate com a espiritualidade ancestral, trazendo sua visão sobre a preservação e valorização das tradições espirituais africanas.

Juntos, eles promoveram um debate sobre a interconexão entre as lutas sociais, culturais e jurídicas, além de destacar a importância de integrar saberes e experiências na busca por uma sociedade mais inclusiva e igualitária. Os registros em vídeo expuseram momentos marcantes desse debate, como a fala de KL Jay sobre a realidade da juventude negra periférica.

A imagem mostra um grupo diverso de pessoas reunidas em frente a um prédio com uma fachada moderna e envidraçada. Há um destaque para uma bateria de escola de samba, com integrantes vestindo camisetas azuis e brancas e segurando instrumentos de percussão, como surdos, caixas e tamborins. Algumas pessoas estão vestidas de forma casual, enquanto outras apresentam roupas mais formais ou coloridas. O grupo inclui homens, mulheres e jovens de diferentes estilos e idades. O clima parece descontraído e festivo, sugerindo um momento de celebração ou evento cultural. Ao fundo, outras pessoas observam e interagem. A vegetação ao redor complementa o ambiente, que parece ser externo, mas próximo a um espaço institucional.
(Foto: Liduina Oliveira)

A atração cultural que encerrou a sessão foi de responsabilidade de uma das mais tradicionais e renomadas escolas de samba de São Paulo, fundada em 1947, Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Império de Casa Verde. A performance celebrou a riqueza da tradição carnavalesca e a música como expressão de resistência e identidade. Ao som vibrante do repique, surdos e caixas, a bateria não apenas fechou com maestria a cerimônia de abertura, mas também simbolizou o compromisso do evento em valorizar as manifestações culturais afro-brasileiras. Essa apresentação ressaltou a importância da Semana da Consciência Negra como um espaço de reflexão e celebração da herança africana no Brasil, reforçando a resistência cultural e a preservação dessas raízes essenciais para a construção da identidade nacional.

Ao longo da semana, a Unifesp segue promovendo atividades culturais, palestras e debates que visam aprofundar as discussões sobre as questões raciais, promover a reflexão crítica e fortalecer a resistência da comunidade negra dentro e fora dos espaços acadêmicos.

A Semana da Consciência Negra 2024 é uma iniciativa da Unifesp, que, por meio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Unifesp, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas e de coletivos negros acadêmicos, reafirma seu compromisso com a diversidade, a inclusão, a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo.

 

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