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Grenaldo de Jesus Silva e Denis Casemiro foram identificados a partir de parceria da CEMDP, MDHC, Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) e da Prefeitura de São Paulo

Escrito por Daniel Patini e Ligia Gabrielli

Mesa de evento na UNIFESP sobre desaparecidos políticos da ditadura, com representantes discutindo justiça e reparação. Há cartazes com fotos de desaparecidos, bandeiras oficiais e uma faixa exigindo punição a torturadores.
Ministra Macaé Evaristo participou do anúncio da identificaçao de mais dois desaparecidos políticos

Em um momento de reparação e compromisso com a memória, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sediou, neste dia 16 de abril, o evento de anúncio da identificação de mais dois desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar no Brasil.

Imagem de uma mesa redonda na UNIFESP sobre desaparecidos políticos da ditadura. Três mulheres estão em destaque, com cartazes de Doni Casimiro e Geraldo do Nascimento Silva à frente. Ao fundo, projeção com logotipo da CAAF/Unifesp. O evento reforça o apelo por memória, justiça e reparação.
Reitora, Raiane Assumpção, durante o anúncio da identificação dos desaparecidos políticos

Grenaldo de Jesus Silva e Denis Casemiro foram oficialmente reconhecidos após décadas de incerteza, graças ao trabalho do Projeto Perus, conduzido pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp), em parceria com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e a Prefeitura de São Paulo.

A imagem mostra uma palestra na UNIFESP durante evento sobre desaparecidos políticos da ditadura. Uma mulher discursa no púlpito, enquanto uma mesa de debatedores acompanha. Há bandeiras do Brasil, de São Paulo e da UNIFESP ao fundo, e um fotógrafo registra o momento. O ambiente é solene e institucional.
Procuradora regional da República e presidente da CEMDP, Eugênia Gonzaga, fez o anúncio oficial das identificações

As identificações foram viabilizadas por novas tecnologias de análise genética, em colaboração com o laboratório da International Commission on Missing Persons (ICMP), marco que reforça o protagonismo do Brasil no enfrentamento das heranças da repressão.

O evento foi realizado no auditório da Reitoria da Unifesp e transmitido pelo canal Unifesp Ao Vivo no YouTube, com a presença da reitora da Unifesp, Raiane Assumpção, da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, do vice-coordenador do CAAF/Unifesp, Edson Teles, da procuradora regional da República e presidente da CEMDP, Eugênia Gonzaga, do representante do Comitê Científico do Projeto Perus, Samuel Ferreira, e da representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e doutora honoris causa da Unifesp, Amelinha Teles. O evento contou também com a participação de parlamentares, pró-reitores(as) e diretores(as) de campi e unidades acadêmicas da universidade, familiares dos desaparecidos políticos e de membros da comunidade acadêmica.

Homem de terno fala em púlpito da UNIFESP durante evento sobre desaparecidos políticos da ditadura. Ao fundo, bandeiras do Brasil, de São Paulo e da universidade.
O representante do Comitê Científico do Projeto Perus, Samuel Ferreira, deu detalhes sobre o processo de identificação das ossadas

Para a reitora da Unifesp, o momento representa que a universidade pública não apenas deve produzir conhecimento, mas também servir à verdade e à dignidade das famílias que há décadas lutam por respostas. “Quero reafirmar o compromisso da nossa universidade em continuar produzindo uma ciência que tem o comprometimento com a memória, justiça, verdade e reparação, e com o entendimento de que é somente com esse modo de fazer é que temos condições de contribuir, de fato, com a sociedade brasileira”, declarou.

A imagem mostra um homem falando em um púlpito com um notebook à sua frente. O púlpito exibe o logotipo da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). Ao fundo, há uma bandeira da instituição e uma tela de projeção.
Edson Telles, vice-coordenador do CAAF, durante sua fala no evento

De acordo com a ministra Macaé Evaristo, o anúncio é um momento de vitória, mas também de muita consternação e dor. “Meu papel aqui é reafirmar o compromisso do governo Lula com a agenda da memória e da verdade, garantindo que a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos tenha possibilidade efetiva de funcionar, e para que a gente consiga cada vez mais recursos para financiar o trabalho do CAAF”, garantiu.

A imagem mostra uma mesa de debate na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), com três mulheres sentadas e identificadas por plaquinhas com seus nomes. A primeira mulher, à esquerda, fala gesticulando com as mãos. Ao fundo, há uma apresentação projetada com o título relacionado à identificação de desaparecidos políticos e o logotipo da CAAFI/Unifesp. Na frente da mesa, estão coladas fotos em preto e branco de dois desaparecidos políticos: Dioni Custódio e Gervásio de Jesus Silva.
Amelinha Telles, representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e doutora honoris causa da Unifesp, discursou durante o evento

"A identificação anunciada hoje representa um grande passo na reparação histórica sobre as violações de direitos na ditadura e, por outro lado, diz sobre o compromisso e a responsabilidade da Unifesp com a busca da história do país", reforçou Edson Telles, vice-coordenador do CAAF.

Reconstruindo trajetórias interrompidas

Grenaldo de Jesus da Silva, natural de São Luís (MA), foi militar da Marinha. Preso em 1964 por reivindicar melhores condições de trabalho, foi expulso da corporação, viveu na clandestinidade e morreu em 30 de maio de 1972, após tentativa de captura de uma aeronave no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Seu corpo foi enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, onde permaneceu como desaparecido por mais de cinco décadas, até sua identificação em 2025.

A imagem mostra uma cerimônia ou evento solene em que diversas pessoas estão reunidas em um auditório. Várias delas estão segurando fotos em preto e branco de pessoas desaparecidas, indicando um ato de homenagem ou memória a vítimas de desaparecimento político — provavelmente relacionadas ao período da ditadura militar no Brasil.  Na frente de cada cartaz, há nomes de desaparecidos, como “Joel Vasconcelos Santos”, em destaque.  O ambiente é formal, com algumas pessoas emocionadas, e um homem de terno se destaca em pé ao lado direito da imagem, possivelmente uma autoridade ou palestrante.
Plateia presente no evento ergueram fotos de desaparecidos políticos da ditadura

Denis Casemiro nasceu em Votuporanga (SP), era pedreiro, trabalhador rural e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi preso em abril de 1971, torturado e executado por agentes do DOPS/SP, sob o comando do delegado Sérgio Fleury. À época, forjou-se uma versão de tentativa de fuga para justificar sua morte. Em 2018, os restos mortais de seu irmão, Dimas Antônio Casemiro, também foram identificados pelo Projeto Perus.

Compromisso com a verdade histórica

A Vala Clandestina de Perus, localizada no Cemitério Dom Bosco, zona noroeste de São Paulo, é um dos maiores símbolos das violações de direitos humanos cometidas pelo regime militar. Descoberta em 1990, abrigava corpos de indigentes, desconhecidos e perseguidos políticos. As ossadas passaram por diferentes instituições até serem transferidas para o CAAF/Unifesp, onde o trabalho de identificação foi retomado de forma sistemática e científica, com base em protocolos internacionais e respeito às famílias.

Além de Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro, foram reconhecidos, até o momento, os remanescentes ósseos de Frederico Mayr, Flávio Molina, Dimas Casemiro e Aluizio Palhano.

A imagem mostra um grupo de pessoas em um ambiente fechado, aparentemente participando de uma visita ou reunião em um espaço dedicado à memória histórica. Nas paredes, há fotos de pessoas desaparecidas e cartazes com frases como "Pela memória, verdade e justiça" e "Pela transformação do DOI-CODI em lugar de memória", que fazem referência à ditadura militar no Brasil. As expressões são sérias, indicando um momento de reflexão ou escuta.
Antes do evento, a ministra Macaé Evaristo visitou as dependências do CAAF onde são realizados os trabalhos de identificação das ossadas

Em 24 de março de 2025, o Governo Federal formalizou um pedido de desculpas pela negligência histórica na guarda e identificação desses remanescentes. O anúncio realizado na Unifesp representa mais um passo concreto no caminho da reparação e da justiça — uma construção coletiva da qual a ciência forense, a universidade pública e a memória histórica são partes inseparáveis.

Fotos: José Luiz Guerra

 

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